segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Água Perrier


"Não quero mudar você nem mostrar novos mundos pois eu, meu amor, acho graça até mesmo em clichês. Adoro esse olhar blasé que não só já viu quase tudo mas acha tudo tão déjà vu mesmo antes de ver.

Só proponho alimentar seu tédio. Para tanto, exponho a minha admiração. Você em troca cede o seu olhar sem sonhos à minha contemplação: Adoro, sei lá por que, esse olhar meio escudo que em vez de meu álcool forte pede água Perrier."

Antonio Cícero


"Ignoro quem tu és, de onde vens, aonde irás... amo-te......pelo enigma pertinaz que em ti me atrai e me intimida, por essa música mendaz de tua voz que alvoroçou minha audição e me vem desviando a vida de seu destino de solidão......
Ignoro quem tu és, de onde vens, aonde irás... Fala-me sempre, mente mais... ...não te posso exprimir o pavor que me invade, as aflições que me consomem, ao meditar na triste realidade de que deve ser feita essa tua alma de homem....
Ignoro quem tu és, de onde vens, aonde irás... audaz desconhecido......tua palavra mente ao meu ouvido, mas não mente essa voz que me treslouca!— Ela é o amor que me chama por tua boca, num apelo tristonho, de saudade... é a exortação do sonho à minha rara sensibilidade......
Ignoro quem tu és, de onde vens, aonde irás... amo a ilusão que tua voz me traz.A falsidade em que procuro crer......Fala-me sempre, mente mais, que de mim só mereces tanto apreço, ó nebuloso, porque desconheço as humanas misérias de teu ser!..
Mas nesta solidão a que me imponho, quando quedo em silêncioa te aguardar a voz, como se torna teu enigma atroz, que ânsia de estrangular este formoso sonho, de transpor os espaços, de bem te conhecer, de me atirar depressa,inteira, nos teus braços, de te possuir só para te esquecer!...”
Gilka Machado

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Mentiras Sinceras..


'Passaste a vida a falar-me de amor. Mas tu nunca soubeste amar. Brincavas com as palavras e mentias com elas vidas inteiras como se nada mais existisse. Mas tu não conseguias sentir o que dizias.Mentias vidas sem fim. Mentias até acreditares no que dizias. E eu acreditei contigo e dei-te a minha vida como se todos os momentos fossem perfeitos. E esperei. Esperei estações atrás de estações até a minha espera perder-se nos anos que se esfumaram. E depois partiste.' Geadas, Carlos (2004), 'Esta Ausência', Os Dias de Um Homem Banal

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Se perdeu



"Chorar por tudo que se perdeu, por tudo que apenas ameaçou e não chegou a ser, pelo que perdi de mim, pelo ontem morto, pelo hoje sujo, pelo amanhã que não existe, pelo muito que amei e não me amaram, pelo que tentei ser correto e não foram comigo.

Meu coração sangra com uma dor que não consigo comunicar a ninguém, recuso todos os toques e ignoro todas tentativas de aproximação.

Tenho vergonha de gritar que esta dor é só minha, de pedir que me deixem em paz e só com ela, como um cão com seu osso.

A única magia que existe é estarmos vivos e não entendermos nada disso. A única magia que existe é a nossa incompreensão."

Caio F. de Abreu