"Ignoro quem tu és, de onde vens, aonde irás... amo-te......pelo enigma pertinaz que em ti me atrai e me intimida, por essa música mendaz de tua voz que alvoroçou minha audição e me vem desviando a vida de seu destino de solidão......
Ignoro quem tu és, de onde vens, aonde irás... Fala-me sempre, mente mais... ...não te posso exprimir o pavor que me invade, as aflições que me consomem, ao meditar na triste realidade de que deve ser feita essa tua alma de homem....
Ignoro quem tu és, de onde vens, aonde irás... audaz desconhecido......tua palavra mente ao meu ouvido, mas não mente essa voz que me treslouca!— Ela é o amor que me chama por tua boca, num apelo tristonho, de saudade... é a exortação do sonho à minha rara sensibilidade......
Ignoro quem tu és, de onde vens, aonde irás... amo a ilusão que tua voz me traz.A falsidade em que procuro crer......Fala-me sempre, mente mais, que de mim só mereces tanto apreço, ó nebuloso, porque desconheço as humanas misérias de teu ser!..
Mas nesta solidão a que me imponho, quando quedo em silêncioa te aguardar a voz, como se torna teu enigma atroz, que ânsia de estrangular este formoso sonho, de transpor os espaços, de bem te conhecer, de me atirar depressa,inteira, nos teus braços, de te possuir só para te esquecer!...”
Gilka Machado