Ontem ao sair de casa estava divina. Um belo vestido preto, de renda italiana legítima lhe cobria a pele incrivelmente branca, que somado a meia igualmente preta 7/8 e o salto, ah, que belos saltos negros, lhe fazia o centro das atenções por onde andava.
Mais uma noite pesada. Mais bebidas e outras coisas..
Ao chegar em casa e já de frente para o espelho do banheiro tirou os saltos, tirou os brincos e se olhou profundamente, e foi desesperador quando nada viu.. Dizem que os olhos são o espelho da alma e ali, diante do espelho não viu a sua alma. Tirou o vestido.. de sutiã, calcinha e meia 7/8 sentou-se na cerâmica fria e chorou.
Chorou perguntando baixinho onde ou quando tinha perdido a sua alma, pois não estava dentro dos seus olhos vazios. Perguntava-se como pôde se tornar tão triste, de onde vinha tanta indeferença pelas pessoas que tanto lhe tinham apreço.. sentia vergonha.
Desesperou-se quando passou as mãos no rosto e descobriu que suas lágrimas eram negras, a maquiagem derretia-se, mas não era culpa dos olhos antes delineados, era culpa da indiferença que a fazia chorar negro como se estivesse podre por dentro.
As lágrimas negras caiam e passava-se diante dela seus amores, suas saudades, suas vitórias, sua auto-confiança e sua inabalável auto-estima ali, estraçalhados, estragados.
Aquelas lágrimas negras brotavam sem controle, apenas lavavam seu rosto. Entendeu que tinha perdido tudo de mais belo que acreditava, todos os seus sonhos estavam despedaçados, onde estava sua alma, será que ela voltaria?. Ligou o chuveiro e permaneceu sentada.
A água corria por seu corpo, por suas belas meias e as lágrimas que já não eram tão escuras também desciam pelo ralo.
Fechou os olhos e tentou lembrar quando foi seu último banho de chuva. Soluçava se perguntando o que tinha feito com aquela menina tão linda que não perdia a oportunidade de tomar um banho de chuva de braços abertos, e rodando e rodando e rodando pelas ruas, numa época em que tudo era mais simples.