sexta-feira, 29 de maio de 2009


Costumava pegar restos de giz na sala de aula e desenhar na rua longas amarelinhas. Amarelinhas com 50 números, ocupava praticamente a rua inteira, as casas dos números eram amarelas, brancas e azuis. Nunca as pedras lançadas chegavam até o fim, mas não importava, nada tirava o sorriso da missão cumprida de uma tarde inteira desenhando a rua, nem mesmo os carros ou os moleques em suas bicicletas velozes e sem freio. A dança dos pés que variavam entre um e dois no chão era mágica.

Em tempos de chuva gostava de desenhar o sol, enorme e sorridente, sempre sorridente, pois um dia alguém disse que desenhá-lo o atraía no céu e mesmo em dias de chuva, quantas tantas vezes vi o giz se desfazendo, numa enorme mancha no asfalto apagada pelas águas prateadas que caiam de nuvens pesadas. Mas não tinha problama nenhum, amanhã era sempre outro dia.

Mas ainda assim, existiam aquelas gotas prateadas e geladas caindo do céu, e as roupas molhadas, e as poças de água no chão, que viravam uma grande aventura com direito a mares, tubarões e piratas, interrompidos pelos gritos da mãe alertando sobre uma gripe e a ordem para entrar em casa.

Esse espírito de otimismo, de energia e alegria permanente mesmo quando tudo dava errado não deve ser esquecido, seria injusto deixá-lo desaparecer, logo ele !!

segunda-feira, 25 de maio de 2009


"Talvez haja entre nós o mais total interdito
Mas você é bonito o bastante
Complexo o bastante
Bom o bastante
Pra tornar-se ao menos por um instante
O amante do amante
Que antes de te conhecer
Eu não cheguei a ser
(...)
Mas somos dois meninos
Nossos destinos são mutuamente interessantes
Um instante, alguns instantes
O grande espelho
E aí a minha vida ia fazer mais sentido
E a sua talvez mais que a minha,
Talvez bem mais que a minha..
Os livros, filmes, filhos ganhariam colorido
Se um dia afinal eu chegasse a ver que você vinha
E isso é tanto que pinta no meu canto
Mas pode dispensar a fantasia
O sonho em branco e preto
Amor mais que discreto
Que é já uma alegria
Até mesmo sem ter o seu passado, seu tempo
O seu antes, seu agora, seu depois
Sem ser remotamente Sequer imaginado
Por qualquer de nós dois."
Caetano V.


"Minha alma tem o peso da luz. Tem o peso da música. Tem o peso da palavra nunca dita, prestes quem sabe a ser dita. Tem o peso de uma lembrança. Tem o peso de uma saudade. Tem o peso de um olhar. Pesa como pesa uma ausência. E a lágrima que não se chorou. Tem o imaterial peso da solidão no meio de outros."
Clarice Lispector