Costumava pegar restos de giz na sala de aula e desenhar na rua longas amarelinhas. Amarelinhas com 50 números, ocupava praticamente a rua inteira, as casas dos números eram amarelas, brancas e azuis. Nunca as pedras lançadas chegavam até o fim, mas não importava, nada tirava o sorriso da missão cumprida de uma tarde inteira desenhando a rua, nem mesmo os carros ou os moleques em suas bicicletas velozes e sem freio. A dança dos pés que variavam entre um e dois no chão era mágica.
Em tempos de chuva gostava de desenhar o sol, enorme e sorridente, sempre sorridente, pois um dia alguém disse que desenhá-lo o atraía no céu e mesmo em dias de chuva, quantas tantas vezes vi o giz se desfazendo, numa enorme mancha no asfalto apagada pelas águas prateadas que caiam de nuvens pesadas. Mas não tinha problama nenhum, amanhã era sempre outro dia.
Mas ainda assim, existiam aquelas gotas prateadas e geladas caindo do céu, e as roupas molhadas, e as poças de água no chão, que viravam uma grande aventura com direito a mares, tubarões e piratas, interrompidos pelos gritos da mãe alertando sobre uma gripe e a ordem para entrar em casa.
Esse espírito de otimismo, de energia e alegria permanente mesmo quando tudo dava errado não deve ser esquecido, seria injusto deixá-lo desaparecer, logo ele !!
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