Pensaste em mim enquanto morrias? Dava muito dinheiro por esta resposta - desde que fosse a verdade. Porque há a verdade - não é tudo tão relativo como tu querias ensinar-me.
Há a verdade, e era isso o que nos unia; que houvesse a verdade, navio absoluto. Alguns outros concordariam conosco, mas à distância. A distância dos risos e dos copos que se tornou a nova intimidade. Para ti, a verdade não era inatingível - estarias já comigo naquela manhã de infância em que quis nadar até ao navio do horizonte? Apanharam-me antes de lá chegar, com um barco a remos e um par de bofetadas - o menino é doido?
Vive-se melhor a inventar a verdade todos os dias, dizem-me.
Faz de conta que não morres. Faz lá.
Nós os dois queríamos inventar tudo menos a verdade. Mesmo que ela fosse nossa inimiga. Sobretudo quando ela era nossa inimiga. Queríamos matar a verdade má e espalhar a verdade boa - o menino é doido?
Como é que eu mato a tua morte? Em sonhos, vens-me buscar, levas-me contigo por um corredor longo e frio. Porque há tantos corredores, e tão escuros, nos sonhos? Mas no fim, olhas para mim e já não és tu. Uma caveira com restos de carne nos olhos ri-se para mim e faz nha-nha-nha, como as crianças - bem feita, bem feita, enganei-te."
Fazes-me Falta, Inês Pedrosa
Angustia. Tá doendo e é uma dor só minha. As coisas poderiam ter sido diferentes, mas é impossível mudar o que passou. Tenho medo quando olho nos olhos dele e pavor e pura angustia também.. sentimentos que eu desconhecia. Coisas que não consigo pensar em voz alta, que não tenho coragem de confessar a ninguém.
Dois de nós estavam de papo, ela com vinho e ele com uma cerveja, ambos fumando. Quando entrei não pararam de conversar e foi no meio da explicação da razão por ela ter estado ausente nas últimas semanas. Por conhecê-la sei que parte daquilo era mentira, apenas uma forma de evitar a presença dos meninos e aprontar, acontece que eu também sentia a falta dela e das tantas vezes que desguiávamos os meninos para curtir – eles também fazem isso conosco..
Francamente o que me incomodou foi arazão por ela ter se afastado de mim. Veio a tona uma lembrança que nem conservava mais, numa situação em que o outro de nós – o que não estava presente nesta conversa – estava num bar com nós 3 e uma estranha que estava tentando beijá-lo se incomodou pelo fato dele só ter olhos pra outra de nós - a ausente que toma vinho - e disse que a mesma era lésbica. Minha amiga ausente ficou transtornada, pois isso somado a pequenos outros episódios relacionados a deixou sem reação. Atribuiu a culpa a mim e se afastou. Louca. Mesmo se eu fosse ela não faria meu tipo e fico a me perguntar se de repente resolvesse mudar amanhã não serviria mais para amiga dela?
Nada que um estranho dissesse me afastaria daqueles que chamo de amigos. Incomodaria-me ser chamada de interesseira, burra, racista, nazista ou qualquer das coisas que abomino, mas ainda assim não me afastaria dos meus amigos.
Sinceramente, sinto por ter perdido minha amiga e por ela ter se mostrado fraca.
Estou numa idade que não me permite mudar por ninguém.
Agora se a mulherada local interpreta como homossexual alguém que não tem como objetivo da noite pegar alguém, que consegue amanhecer num bar de salto e maquiagem sem pagar mico na companhia de homens lindos – e sem pegar nenhum, cara amigo é amigo - que tem cabelos curtos e tatuagens, que é formada, pós-graduada, independente e não vive a esperar pelo príncipe encantado – ou em português claro o otário que vai sustentar - bem.. sinto mais ainda pelo atraso de vida delas, pois a minha vai bem obrigada, bela, colorida e com um João, que não me interessa que elas conheçam.
Que papo torno, parece de colegial. Mas precisava registrar.